Conspiracionismo do “marxismo cultural” enquanto processo fascistizador no capitalismo contemporâneo e suas repercussões na saúde
DOI:
https://doi.org/10.14295/jmphc.v16.1416Palavras-chave:
Capitalismo, Fascismo, Economia, PolíticaResumo
Tomamos certo cuidado em afirmar o retorno do fascismo. Não por não acreditarmos em sua perversidade contra os trabalhadores, mas sim por termos profunda compreensão de que esse fascismo ‘de novo tipo’ já penetrou todas as camadas das relações sociais capitalistas na conjuntura do capitalismo contemporâneo. Assim, defende-se aqui que o fascismo é, e sempre, foi uma possibilidade política intrínseca ao modo de produção capitalista que opera em meio às crises estruturais que, para ser bem compreendido, necessita de uma análise histórico-crítica das relações sociais capitalistas a nível mundial. A longa recessão capitalista, caracterizada como uma ‘crise tripla’ – econômica, ecológica e geopolítica – chafurda ainda mais as contradições do modo de produção vigente ao mesmo tempo que aprofunda a desigualdade social à medida que há a escalada da luta de classes. O acirramento da luta de classes termina por abrir ainda mais espaço para a ascensão do neofascismo, principalmente em países de capitalismo dependente, como é o caso do Brasil. Mas após a sua ascensão aos nossos olhos, como se perdura esse neofascismo? De que forma essa apropriação da percepção de mundo se mantém e, ainda de forma mais preocupante, como se dissemina? A extrema-direita tem conduzido com maestria retóricas conspiracionistas para atrair a classe trabalhadora no afã de fazê-la aderir ao fascismo. E a realidade é que a classe trabalhadora mais politizada à esquerda não foi capaz de deter sua escalada. Os acontecimentos em 8 de janeiro de 2023, quando grupos bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes que representam os três poderes do Estado burguês confirmaram que as narrativas disseminadas em redes sociais não se limitaram apenas aos excessos e divagações destes grupos organizados. São grupos que se alimentam de teorias da conspiração fortemente enraizadas no ideário social e que servem de ‘combustível’ ideológico para as ações concretas e com apoio das massas. Se é certo que as teorias conspiratórias são narrativas mentirosas e paranoicas, é também certo de que para metade do Brasil, essa é a realidade. Entre essa profusão de teorias da conspiração, uma delas tem sido frequentemente vociferada no mundo e, especialmente, no Brasil, o “marxismo cultural”. Essa expressão é originada do termo bolchevismo cultural, que perdurou no ideário das massas antes, durante e após a ascensão do nazismo na Alemanha. O cenário da Europa nos pós Primeira Guerra Mundial (1914-1918) era devastador. Diante de uma classe trabalhadora completamente exausta e uma pequena burguesia endividada e deixada à deriva pelo Estado, as promessas nazistas de desenvolvimento e prosperidade ganharam adeptos entusiasmados. Em seu livro Mein Kampf, Hitler discorreu sobre várias narrativas mentirosas e obsessivas, declarando fortemente guerra ao marxismo e aos judeus – associando-os ao bolchevismo. Fortalecida pela imprensa nazista, comandada por Goebbels, iniciou-se uma violenta guerra cultural rotulada de “bolchevismo cultural”, onde se tornou dever dos alemães protegerem a pátria contra quaisquer manifestações culturais “judaico-marxistas”. O “marxismo cultural” passou a ser difundido no início da década de 1990 pela extrema-direita estadunidense, como uma forma de reatualizar o bolchevismo cultural. Inicialmente nos EUA, como um dos subprodutos do macarthismo, o “marxismo cultural” foi se conservando no ideário popular, conquistando também um espaço real e político através da perseguição à esquerda. No Brasil, a expressão ganhou espaço através das publicações e dos discursos de Olavo de Carvalho que, também na década de 1990, passou a defender tal “dominação marxista” na cultura ocidental. Figuras como Marcel Van Hattem, Rodrigo Constantino, membros do Movimento Brasil Livre (MBL), o padre católico Paulo Ricardo, Eduardo Bolsonaro, organizador da Conservative Political Action Conference (CPAC) – uma conferência que reúne figuras da extrema-direita e que já conta com quatro edições no Brasil – são alguns exemplos de alinhadas a esse conspiracionismo. Assistimos a esse movimento no Brasil com Bolsonaro, na Argentina com Milei e, tudo indica que já se avista o mesmo movimento de avanço no México com Eduardo Verástegui. Verástegui é um ator mexicano que ganhou espaço após o lançamento do filme “Som e Liberdade”, que se tornou bandeira de defesa e propaganda da extrema-direita e que remete diretamente às teorias conspiratórias QAnon. Também é fundador do Movimento Viva México, defendendo uma guinada ao “Novo México” através do mesmo discurso já conhecido em terras brasileiras: Deus, pátria e família. O curioso é que o Movimento Viva México está vinculado à CPAC México que ocorreu em 2022. Eduardo Bolsonaro também acumula fotos e expressa apoio abertamente a Verástegui, expondo que a extrema-direita tem se organizado na América Latina de forma muito bem articulada, utilizando-se um discurso de luta contra a “guerra cultural” em percurso. A saúde, por exemplo, é tópico frequente nas articulações e discussões desses grupos, onde são disseminados absurdos conspiracionistas desde a dominação da OMS frente às políticas de saúde, tratando-a como uma organização dominada pela esquerda mundial, até uma provável água contaminada propositalmente com desreguladores endócrinos, a fim de feminilizar as populações. A partir desses apontamentos e a relação intrínseca da conjuntura econômica e política com a saúde, faz-se urgente a compreensão do perigo que significa o “marxismo cultural” à vida, para que seja possível o seu desmonte. Assim, o objetivo deste estudo é mapear o processo de fascistização proporcionado pelo conspiracionismo do “marxismo cultural”, através dos agentes neofascistas existentes entre Brasil e México e suas repercussões para a saúde. O percurso metodológico para a pesquisa irá se constituir em quatro pilares: a) análise biográfica, partindo para uma investigação dos atores envolvidos nessa estratégia política neofascista no Brasil e no México; b) pesquisa documental, levantando dados concretos sobre o protagonismo destes atores frente ao movimento de extrema-direita e suas repercussões no que tange a saúde; c) autoetnografia crítica, com a vivência in loco das reuniões destes grupos; d) ensaio crítico relacionando o discurso do “marxismo cultural” com a influência prática em propostas nos países já citados. Avista-se, desde o presente momento, articulações intensas para manter a apropriação das massas por esses agentes neofascistas. Daí a necessidade de mapear essas estratégias para, assim, criar fôlego para a resistência.
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