Uma reflexão sobre verdade, contradições e reprodução social na saúde
iniciando um olhar desde a crítica de Floreal Antonio Ferrara
DOI:
https://doi.org/10.14295/jmphc.v16.1396Palavras-chave:
Mulheres Trabalhadoras, Divisão do Trabalho Baseada no Gênero, Conhecimento, Sistema Único de Saúde, Fatores SocioeconômicosResumo
Em tempos de pós-verdades e relativizações que dissolvem as relações, rompem as mediações arrancando também as raízes da história há a necessidade de se pensar o que é a verdade. Considera-se que as raízes da história é o registro das transformações da sociedade, do conjunto das relações sociais, modos de produção, contradições e estranhamentos que se autonomizam na sociedade do capital, desde suas mercadorias, tecnologias até a conformação de novas maneiras de se relacionar entre os sujeitos e seus gêneros e etnias. Nessas primordiais interações entre pessoas, as trocas materiais (portanto, relacionais) foram se transformando em entendimentos de competição, escondendo a totalidade da cooperação. Isto reforçou a aparência imediata do mundo como apenas dominação e iniquidades (naturalizadas, portanto, quando da ausência da indignação e da crítica). É nesta reflexão que o materialismo histórico dialético de Marx se faz imprescindível pois, aproximando-se infinitamente do objeto para a busca da realidade das coisas, este método ajuda a não nos perdermos nas grandes construções ideológicas, pois o método se encontra na ancoragem da materialidade dos fatos que explicam até hoje a sociabilidade capitalista. Destarte não é de se estranhar que a questão, por exemplo, do feminino e do trabalho nas discussões sobre reprodução social que, quando não são tematizadas, naturalizam a inserção e participação da mulher no estado capitalista, no entanto observam-se as trágicas verdades sobre o aumento da violência contra a mulher, salários menores que os dos homens, maternidades solo sem apoio, maiores taxas de desemprego, exploração de todos os tipos, acúmulos de função para as chefas de família, aumento do alcoolismo, doenças, deterioração na saúde mental – tudo isso: mera aparência. Aparentemente, o Estado não está, em suas políticas sociais, inclusivas para alguns, preocupando-se com a força de cooperação que o feminino engendra, pois seria em sua essência anticapitalista, a composição com o devir feminino traz força revolucionária da geração da vida que é uma página em branco que pode construir outra forma de socializar. Mas para isso tomar forma e romper com a lógica patriarcal da sociabilidade capitalista, é necessária a criação de novos espaços de relações cooperação, solidariedade e responsabilidade sobre a técnica, ciência e sociabilidade, a partir da crítica e desvelamento das formas atuais de dominação burguesa que adentram as famílias dos territórios periféricos impelindo de várias maneiras a reprodução social para continuar alimentando os anseios do capital. Para contextualizar essas reflexões o autor Floreal Antonio Ferrara nos ajuda a compreender qual o sentido de verdade que há neste mundo hipermoderno e quais suas consequências sobre nós próprios. Na obra Teoria da Verdade e Saúde este sanitarista marxista argentino discutia, a partir da crítica do Estado moderno, dialeticamente com a Evolução da história humana com a verdade e ética de Espinosa, sobre o afastamento que os pós-modernos fazem do sujeito. Floreal critica os avanços do pós-modernismo e como este promove narrativas e espetáculos que obliteram o mundo real, compelindo os sujeitos as suas afecções e desejos imediatos. Floreal nos ensina, evidenciando as relações de competição, como os bancos mundiais e os consensos dos países centrais impõem suas políticas de austeridade pela força de submissão aos países periféricos que acabam por cortar investimentos de setores essenciais como a seguridade social, infraestrutura e resolução das iniquidades. Todavia o que opera é a homogenização da busca dos governos por superávits primários, exigências do capital internacional para o lucro com os juros das dívidas públicas dos países periféricos e para o deslocamento das grandes empresas, que por sua vez buscam a superpopulação relativa destes países como força de trabalho barateada. No cenário ultra neoliberal, isso se intensifica pelas políticas de corte neofascista donde a repressão e o disciplinamento da classe trabalhadora permitem a manutenção de menores salários, aumento das jornadas e fragilização sindical. Em tempos pós-modernos a ênfase nas singularidades vem distanciando, isolando e fragmentando a luta coletiva, afastando a possibilidade da crítica da realidade pela crítica da economia política. A retomada da consciência da luta por novas relações de cooperação, solidariedade, da busca pela verdade, retorno ao real, do desejo de continuar conhecendo e se aproximando do objeto, sem o positivismo que retira o sujeito e o isola desse mesmo objeto necessita do retorno ao aporte teórico crítico sobre o modo de produção capitalista, suas contra tendências à queda da taxa de lucro e, em especial, sua ligação com o local da reprodução social ocupado principalmente pelo trabalho feminino. Ao transladar essa reflexão sobre os efeitos da verdade pós-moderna em obliterar o papel reprodutivo do trabalho feminino na saúde, é impossível não pensar no caso do trabalho feminino no Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS é composto majoritariamente pelas mulheres e essas profissionais não podem ser confundidas como assistentes, culturalmente incumbidas de cuidar e por isso aceitar violências institucionais e não reconhecimento, naturalizados pela sociedade em geral. O trabalho feminino no SUS tem sua história e precisa ser resgatada. Nesse processo há avanços e retrocessos com relação à participação e emancipação feminina que por mais que tenha atingido emancipação política, ainda necessita da emancipação de toda a humanidade para cessar a caça às bruxas que ocorre até hoje com outras roupagens.
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